Elza Soares realmente cantou até o fim. Nem os problemas da idade, como os que a impediram de se apresentar como de costume – percorrendo o palco com seu molejo -, conseguiram frear o ímpeto da “A Mulher do Fim do Mundo”
O disco, aliás, foi um dos grandes responsáveis por renovar a carreira de Elza. Gravado em São Paulo, o álbum se caracterizou pela sonoridade conhecida como Vanguarda Paulista, eternizada em grupos da década de 1980 e por nomes como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção.
“A Mulher do Fim do Mundo” chegou às lojas em 2015 e contou com participação ativa do guitarrista Kiko Dinucci, conhecido também pelo trabalho com Juçara Marçal e por ser um dos membros do MetáMetá.
Ela botou o pé na estrada e fez uma turnê inesquecível para divulgar o trabalho. O 32º disco de estúdio de sua carreira fez tanto sucesso, que ganhou o “Grammy Latino”, em 2016, na categoria Melhor Álbum de Música Popular.
O álbum tinha samba, rap e música eletrônica e debateu temas importantes, como racismo, diversidade, transexualidade e se tornou um ícone no enfrentamento ao conservadorismo. O sucesso foi tanto que Elza Soares não parou e ainda lançou títulos como “Deus É Mulher”, com canções como “Exu nas Escolas”.
O último disco de inéditas Elza Soares foi “Planeta Fome”, título de uma frase histórica dita por ela no programa de Ary Barroso nos anos 1950.
Bastidores com violência, tristezas e resiliência
Elza nasceu nos anos 1930 e foi criada na Favela de Moça Bonita, hoje chamada de Vila Vintém, no Rio de Janeiro.
Ela foi obrigada pelo pai a se casar menina, aos 12 anos, com um homem 10 anos mais velho: Alaúrdes Soares.
Aos 13 anos foi mãe pela primeira vez. Teve outros 4 filhos com o marido. 2 deles morreram de fome de tão pobre que era a família.
Elza ficou viúva aos 21 anos e foi trabalhar numa fábrica de sabão. Na mesma época, em 1953, fez teste na Rádio Tupi no programa “Calouros em Desfile”.
Em 1960 ficou mal vista e foi perseguida pelos militares por ter gravado o jingle da campanha do ex-presidente João Goulart.
Além disso foi vítima de violência doméstica no casamento.
Mas tudo isso a tornou mais forte. Uma voz para defender as minorias e servir de resistência num mundo cada dia mais estranho.
Nós deixamos aqui nossa homenagem a essa guerreira brasileira.
Viva ela! Viva Elza! E a herança que ela deixou para a cultura brasileira.
Obrigado pelos ensinamos, pelo talento e pela resiliência.
Por Rinaldo de Oliveira com informações do SNB, Hypeness e IstoÉ